terça-feira, 29 de março de 2005

Saiu de casa apenas para dar uma voltinha no quarteirão. Não estava com vantade alguma de fcar em casa estudando ou fazendo qualquer outra coisa que o valha. Foi a pé. Sua perna doía um pouco pela trombada no dia anterior durante um jogo de basquete. Assim que virou na esquina para esquerda viu uma criança. Ela brincava no parque do outro lado da rua. O menininho estava no balanço, se segurava muito forte com uma das mãos em um lado da corrente que prendia o pedaço de madeira ao ferro acima dele. Na outra mão ele tinha um picolé. Fazia calor, apesar do constante vento que batia em seu rosto. Ela continuou andando devagar olhando para o menino. Ele se empurrava com os pés e dava lambidas no seu picolé alternadamente. O garotinho estava sozinho no parque e não tinha ninguém por perto. Ele ria, ria alto para qualquer um ouvir. Porém não havia ninguém lá, ninguém para ouvi-lo. Então ele ria mais alto ainda, se sentindo totalmente feliz com aquelas duas coisas: o balanço e o picolé. Aquilo era o que bastava para ele no momento. A quadra já acabara, virou à esquerda novamente. Esse lado da quadra era mais movimentado. Um casal de velhinhos sentados lendo uma revista. Eles liam, apontavam as gravuras e comentavam as reportagens. A revista culta ficava no meio dos dois. Eles riam e discutiam sobre os assuntos aborados nas páginas impressas. Quando estavam quase brigando por discordar de uma opinião o velhinho tascou um beijo na velhinha e tornou a rir, mostrando sua dentadura muito bem cuidada e reluzente. A senhora sentia-se feliz e transparecia isso.Tornaram a ler. Virou a esquerda novamente e deparou-se com um cara. Um menino mais ou menos da sua idade, talvez uns dois anos mais velho. Ele estava de All Stars preto e uma calça de exército larga. Seus cabelos pretos despenteados combinavam com sua barba de uns dias por fazer. Usava uma camiseta branca e tinha olhos azuis lindos. Não conseguia tirar seus olhos dele. Corou de vergonha. Ele sorriu. Ela sorriu. Não queria que aquela quadra em especial acabasse. Não queria virar à esquerda. Ele vinha na sua direção. Quando alcancou-o pode sentir seu perfume forte. Fazia tempo que não sentia aquilo por algum menino. O último fora seu ex-namorado. Mas sabia que não aconteceria nada com aquele menino. Era apenas bom se sentir assim. Aumentar sua moral, melhorar seu ego. Virou pela última vez na esquina e voltou para casa. Sentia-se bem.

terça-feira, 22 de março de 2005

O desenhado perfeito das nuvens branquinhas no céu azul cintilante a deixavam muito feliz. Sentia-se imponente. Era um desses dias quentes de Março e estava parada na da Cândido de Abreu, a caminho do lugar onde fazia cursinho. Olhava para o alto e as pessoas passavam por ela sem notar sua felicidade, sem perceber que ela era diferente, pois era assim que se sentia. Diferente de todos aqueles vestindo seus ternos, indo trabalhar, sem tempo nem para olhar para cima ou para perceber ela ali.
Por alguns instantes esqueceu-se de onde estava, do horário que tinha a cumprir e das pessoas ao seu redor. Apenas se concentrou em si. O que deveria ser ela para o mundo. Um nada para alguém que nem conhecia a milhares de kilômetros de distância e um tudo para outro. Sua vida deveria ser escrita em um livro para que todos soubessem o que fazia. Todas as coisas maravilhosas e também as tristes que aconteciam diariamente com ela.
Algo estava pra acontecer, mas não podia saber se era bom ou ruim. Resolveu deixar para pensar nessas coisas depois. Sempre tudo para depois. Estava atrasada. Olhou para frente, parou mais um instante percebendo aqueles perto dela. Comecou a andar. Foi cruzar um rua perpendicular distraída quando uma caminhonete preta veio ao seu encontro. Calor.

quinta-feira, 17 de março de 2005


Belíssimo filme espanhol de Alejandro Amenábar que trata sobre a eutanásia. Durante o filme me coloquei a pensar se vale a pena viver não podendo mover um mebro sequer, com excessão da cabeça. Será que a melhor solução é mesmo morrer? Não pude decidir o que seria melhor na situação de Ramón (personagem principal tetraplégico), mas o tema foi exposto de forma excelente. O filme, baseado em uma história real, deixou-me indagando o motivo de nossas vidas. Passamos pelos dias para fazer o quê? Nascer, estudar, estudar, esudar, trabalhar, ganhar dinheiro para viver e morrer. E a maioria das pessoas seguem esse cronograma à risca. Apenas transcorrem os dias de suas vidas inúteis numa inércia contínua. É quase o mesmo que ficar deitado eternamente em uma cama sem poder mover-se. Então matar-se? E todas as pessoas que dependem de você, que amam você, tudo o que você pode ainda fazer em vida... Muito polêmico. Apenas concordo que se alguém quer mesmo tirar sua própria vida, ela deve ter esse direito. Não sei o que eu faria nessa situação e nem quero saber. O que você faria?


domingo, 6 de março de 2005

capítulo 4

Sem que ele percebesse, um amigo seu chegou do seu lado e levou-o para um lugar meio escondido da casa. Era um banehira e outros dois amigos seus já estavam lá. Apenas dava para ouvir a batida da música e os vidros do pequeno banheiro vibrando. Logo que fecharam a porta mostraram o objetivo de se esconderem naquele lugar: heroína. Leandro havia largado essa mania de "injetar socialmente" depois de conhecer ela. Mas agora já não tinha mais motivo para deixar esse vício de lado. Foi o primeiro. Pegou sua seringa, cada um tinha a sua em pacotinhos separados, já devidamente preparada, amarrou um elástico no braço, um pouco acima da dobrinha, enguichou o líquido opaco da seringa só para ter certeza que depois de dois anos ela não estava entupida. Parou durante alguns segundos só para ter certeza se faria aquilo novamente. Lembrou de como estava antes de conhecer ela, de como foi difícil parar. Vendeu seu carro para poder comprar mais. Mas aquela noite ele precisava. A picada foi mais dolorida do que usualmente, tinha se desacostumado com o ardor do líquido entrando em suas veias. dessamarou o elástico e esvaziou a seringa. O efeito é quase instantâneo. Abriu a porta. Seus amigos tentaram impedir que ele saísse, mas resolveram ficar para garantir um pouco do líquido para eles.

sexta-feira, 4 de março de 2005

trecho do "Manifesto Partido Comunista" - Marx e Engels*

Cap II Proletários e Comunistas

"As proposições teóricas dos comunistas não se baseiam de forma alguma em idéias, em princípios inventados ou descobertos por esse ou aquele reformador do mundo.
São apenas a expressão geral das condições efetivas de uma luta de classes já existente, de um movimento histórico que se desenrola sob nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que até agora existiram não é característica definitiva do comunismo".
"Propriedade adquirida fruto do próprio trabalho e do mérito pessoal! Falais da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, que antecedeu a propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la: o desenvolvimento da indústria já aboliu e continua a aboli-la diariamente".


*livro emprestado por Danielle Leal (www.temdoisladosoquadrado.blogger.com.br)