segunda-feira, 24 de outubro de 2005

O barulho do relógio a incomodava. Deitada na cama, via a luz do mostrador do relógio iluminando parcialmente o breu do quarto. Saber que horas eram a deixava ansiosa, não conseguia dormir. A luz da lua, que entrava pelo buraco da cortina, iluminava boa parte da parede lateral do quarto. As sombras formadas denunciavam a existência de várias árvores do lado de fora da casa. As árvores faziam parte, na verdade, de um parque; lembrava quando o parque estava sendo executado e todos os moradores locais animaram-se com a novidade. Mas o espaço tornou-se de uso exclusivo ds traficantes: local para uso, compra e venda de drogas. Sua casa, pela proximidade do parque, estava sempre rodeada dessa gente estranha. Ela matinha a casa toda fechada durante o dia todo e, a noite, podia ouvir as conversas vindas de lá. Tinha medo de que eles a matassem enquanto dormia, transformando sua casa em uma boca. Cuidava do relógio, e se cochilava, seu sono era muito leve. Só dormia mesmo a partir das 6 horas da manhã, enquanto essa hora não chegava, ficava apreensiva, esperando acontecer o que tanto temia. Já eram 4:52, a noite estava terminando e logo poderia dormir despreocupada. Assim que amanhecia, desligava o relógio que tanto a irritava. Reparando nos barulhos extrenos, notou que essa noite estava atipicamente silenciosa. Pessentiu. Dormiu profundamente. Com o relógio ligado. O barulho do relógio não mais a incomodava.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Referência

Todo mundo só fala nesse tal de referendo. Tá na moda discutir sobre isso. Eu já li várias opiniões a favor e contra, mas anda não formei a minha própria opinião. Tenho argumentos pros dois lados. Só pra não ficar diferente de todas as outras votações acho que vou anular!

terça-feira, 11 de outubro de 2005

cold day

Pela primeira vez sentiu a solidão. Olhava ao seu redor e queria fugir, mas não sabia pra onde iria, não queria estar em lugar nenhum. Não queria existir por aquele instante. As pessoas trombavam nele como se fosse invisível, todos seus amigos ao seu redor conversando e rindo nem notaram sua tristeza. Seu olhar demonstrava solidão, ele exalava carência, no entanto ninguém percebia. Saiu correndo sem direção, o mais rápido que pode. Queria estar em outro lugar, não queria estar em lugar nenhum. No meio da multidão parecia um louco correndo, mas ele não se importava. Todas as pessoas desse mundo são loucas, todas tem manias estranhas, mas a vergonha de demonstrar. Se escondem, não demonstram como realmente são por medo. Ele parou de correr e, andando, começou a cantarolar sua música preferida: "somos quem podemos ser" do Engenheiros do Hawaii. A cada verso que cantava, aumentava a intensidade de sua voz para que todos pudessem ouvi-lo:
"um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão
um dia me disseram que os ventos as vezes erram a direção
e tudo ficou tão claro um intervalo na escuridão
uma estrela de brilho raro um disparo pára um coração
a vida imita o vídeo garotos inventam um novo inglês
vivendo num país sedento um momento de embriaguez
somos quem podemos ser sonhos que podemos ter
um dia me disseram quem eram os donos da situação
sem querer eles me deram as chaves que abrem esta prisão
e tudo ficou tão claro o que era raro ficou comum
como um dia depois do outro como um dia, um dia comum
a vida imita o vídeo garotos inventam um novo inglês
vivendo num país sedento um momento de embriaguez
somos quem podemos ser sonhos que podemos ter
um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão
sem querer eles me deram as chaves que abrem esta prisão
quem ocupa o trono tem culpa quem oculta o crime também
quem duvida da vida tem culpa quem evita a dúvida também tem
somos quem podemos ser sonhos que podemos ter"
E todos ao seu redor olhavam-no com estranheza, com preconceito e até com vergonha dele. Mas ele não se importava, não tinha medo de fazer o que tinha vontade, de se expressar, se libertar dos conceitos estipulados pela sociedade: é errado fazer isso, é bom fazer aquilo, é certo ser assim, é feio falar tal coisa... Foda-se o que vão pensar de mim, foda-se o que é certo, o que é errado, o bonito o feio, tudo é pré estipulado. Não existe mais espontaniedade, o que não tá no padrão é ruim! À merda com isso! Cantou a música toda e, ao final dela já estava berrando e se sentia muito melhor. Se sentia feliz, bem. Pela primeira vez em anos fez o que tinha vontade. Não se importou com o pensamento dos outros, o que ele pensava era o crucial. Voltou para casa feliz. Descobriu a felicidade verdadeira e a liberdade total.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Não consigo mais escrever textos, falta alguma inspiração. Não sei como, porque assisti a filmes excelentes nos últimos dias:
Dogville
Cidade dos sonhos
Ata-me
Tudo sobre minha mãe
A glória é feita de sangue
E mais alguns aí, tou vendo vários filmes ultimamente. É o que me mantém distraída e em contato com a realidade. O resto do tempo, parece que estou numa bolha: tudo ao meu redor parece tão surreal, inexistente. Todas as falas e gestos não são assimiladas pela minha cabeça. Além do que tudo acontece tão rápido. Não tá legal isso! Ansiedade me domina mais uma vez. E nem sei o que estou esperando. Alguma coisa diferente do que estou vivendo agora. Quando chegará e como será eu não sei ainda, continuo aguardando ansiosamente...

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Dona Delmira delicadamente deitou dois diamantes debaixo da dispensa. Doméstica de disfarce, desviava dados, documentos, depois desaparece. Dedicava dias desenrolando dolares, dinheiro de donos desengandos.
Desembarcou domingo diante de Dublin: diferente, desconhecida. Dias depois deparou-se desempregada, desquitada, desanimada, dessesperada. Dançou, descontrolou-se, drogou-se desperdiçando diversos dólares. Devia dinheiro demais. Determinado dia desapareceu. Doze devedores desarticularam dona Delmira. Desistiu dessa diária de delinquente.
Dezembro datou: datilógrafa do desembargador diretor da Dinamarca. Definitivamente dizia-se determinada demais. Demontrou-se deploravelmente decrépita, demasiadamente decadente.
Descobriu descender do decano de determinada doutrina desconhecida. Desarticulou-se diante do dinheiro deixado do defunto descoberto. Dinheiro demais. Desapareceu divinamente e nunca mais foi vista.